Curitiba foi a primeira cidade a realizar uma ocupação cultural contra a extinção do Ministério da Cultura, medida tomada pelo presidente interino, e também contra o golpe a democracia. Neste domingo, 19 de junho, em assembleia os artistas organizadores da Ocupação decidiram pelo encerramento das atividades, compreendendo que o momento é de reforçar a luta na rua junto a outros movimentos.
Nos últimos dias, compreendendo o inevitável isolacionismo espacial e político da ocupação, entendendo que esta é uma ação tática e não uma conquista de terreno, e acima de tudo, tensionados pela necessidade de construção de outras ações, o Movimento Cultura Resiste optou por concentrar seus esforços na articulação de novas frentes e na construção de novas ações táticas, portanto, nos retirando da Ocupação do IPHAN Curitiba, mas seguindo como um ponto de articulação, uma vez que a própria Superintedência já colocou o espaço à disposição para outras atividades artística-política-culturais, ou seja, a gente sai mas deixa a porta aberta para a sociedade usufruir e ocupar a programação deste local. Ao mesmo tempo nos solidarizamos à luta contra a recém criada Secretaria Especial de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SEPHAN) do MinC e defendemos a autonomia do IPHAN no que tange as Políticas de, para e com os bens materiais e imateriais da nação.
Confira abaixo a nota na íntegra:
AOS FAZEDORXS DAS CULTURAS E ARTES
Pouco mais de um mês após ocuparmos a sede do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) em Curitiba, espaço até então pouco conhecido pela maioria da população, podemos afirmar seguramente que a resistência das Culturas e Artes surpreendeu o golpe, as esquerdas e o próprio campo da imaginação. A ação proposta e materializada pelo Movimento Cultura Resiste contribuiu para o despertar dxs fazedorxs rumo à ação, ocupando espaços do Ministério da Cultura (MinC) por todo país com formação política, atuação contínua e criação de espaços de síntese.
O Movimento nasceu ainda no governo Dilma, quando em razão da Reforma Ministerial, o mesmo sinalizou a extinção do MinC, agregando diferentes agentes artístico-político- culturais dispostxs à defesa das Políticas Culturais. Quando Michel Temer tomou o poder por assalto, o Movimento articulou uma ação tática imediata em resposta ao já anunciado fim do MinC e aos outros retrocessos postos na agenda do golpe. Ocupamos em apenas sete, mas dentro de algumas horas fazedorxs das Culturas e Artes de Curitiba aderiram à ocupação e logo se integraram à construção coletiva, plural e democrática de resistência. Dentro de poucos dias, dezenas de outras ocupações se espalharam por todos os cantos do país fazendo o governo recuar da extinção do Ministério.
A ocupação do IPHAN em Curitiba tornou-se espaço de referência na resistência da diversidade, agregou as mais diversas pautas, contribuiu nas diferentes lutas e articulou com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e demais organizações dispostas a unidade de luta contra o golpe. Desde o início temos clareza absoluta de que a ocupação nada mais é que uma das ações táticas de resistência à ofensiva reacionária, valendo-se da organização do campo da imaginação, mas com amplitude para articulação de demais espaços de atuação militante. A dinâmica diária da ocupação consome energia, organização e tempo da nossa militância, e enquanto o espaço irradiava lutas, agregava uma base plural e servia de formação política contínua, o movimento girou quase todos os seus esforços para o fortalecimento da estrutura da ocupação. Nos últimos dias, compreendendo o inevitável isolacionismo espacial e político da ocupação, entendendo que esta é uma ação tática e não uma conquista de terreno, e acima de tudo, tensionados pela necessidade de construção de outras ações, o Movimento Cultura Resiste optou por concentrar seus esforços na articulação de novas frentes e na construção de novas ações táticas, portanto, nos retirando da Ocupação do IPHAN Curitiba, mas seguindo como um ponto de articulação, uma vez que a própria Superintendência já colocou o espaço à disposição para outras atividades artística-política-culturais, ou seja, a gente sai mas deixa a porta aberta para a sociedade usufruir e ocupar a programação deste local. Ao mesmo tempo nos solidarizamos à luta contra a recém criada Secretaria Especial de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SEPHAN) do MinC e defendemos a autonomia do IPHAN no que tange as Políticas de, para e com os bens materiais e imateriais da nação.
Por questões de segurança, não revelaremos os próximos passos do Movimento, mas temos certeza que a ampliação da luta é tarefa central e imediata, e por isso sabemos que os demais setores que constroem a ocupação entenderão nossa posição. O imobilismo não pode derrubar um acúmulo tão poderoso construído no último período. Estamos do mesmo lado, pois somos aquelxs que nunca escolheram o caminho fácil da história, mas neste momento é tempo de ação imediata para reconstruir nossa capacidade de intervenção na realidade.
Movimento Cultura Resiste
20 de junho de 2016.