Um público formado por cineastas, produtores e atores deu o tom da cerimônia de posse da nova diretoria da Ancine, nesta sexta 19. O diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema, Manoel Rangel, que foi reconduzido ao cargo, e os novos diretores Glauber Piva e Paulo Alcoforado foram empossados pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, em cerimônia realizada no Palácio do Capanema, Rio de Janeiro. Minutos antes do ato oficial, vários dos representantes do cinema brasileiro foram abordados pela imprensa e quase como um coro, a reivindicação era a mesa: ampliação do parque exibidor brasileiro. Trocando em miúdos: mais salas de cinema para que os filmes nacionais possam ser vistos por um público maior. A expectativa, pelo menos no discurso, parece ter sido respondida pelos novos diretores.
Reconduzido ao cargo de diretor-presidente após dois anos exercendo a função, Manoel Rangel, em seu discurso, destacou como prioridade da Ancine a ampliação do parque exibidor brasileiro voltado diretamente para municípios com mais de 100 mil habitantes e locais de grande concentração da classe C. “Outra frente de promoção ao acesso do filme nacional está no apoio às empresas distribuidoras brasileiras. Entendemos que uma forte aliança entre essas empresas e a produção nacional é necessária para colocar nossos filmes, de forma sustentada, ao alcance de um número maior de pessoas”, afirmou Rangel.
E, foi enfático ao repetir uma cobrança já conhecida em seus discursos desde sua 1º posse em 2005: mais abertura no mercado de TV por assinatura. Segundo ele, excetuando o Canal Brasil e outros canais independentes, obrigatórios pela Lei do Cabo, a participação do cinema brasileiro na TV paga é muito pequena. Em 2008, afirmou, os outros canais que não os independentes, exibiram 4,25 mil obras cinematográficas. Destas, apenas 45 eram brasileiras. “Uma maior abertura e um mercado mais forte incentivará o empresariado a investir em novos conteúdos, canais e programadoras.”
Entre os atores que prestigiavam o evento, Paulo Betti, cobrou radicalidade na política de fomento. “O maior parque exibidor é a sala de estar do brasileiro.” Por este motivo, diz ele: “meu maior desejo é que meus filmes sejam vistos na TV aberta, o caminho é este. Abrir estas portas para o cinema nacional.” Para o novo diretor Glauber Piva, “o cinema estimulou as novas convergências e é através delas que o cinema pode dar a grande virada”. Piva citou a importância de mídias como a internet, por exemplo, e defendeu o incentivo a produção independente para TV. “É infrutífero pensar cinema dissociado da TV.” disse. (veja seu discurso na íntegra)
Lembrou de alguns dos desafios que a diretoria da ANCINE deverá enfrentar nos próximos anos para garantir sustentabilidade ao mercado audiovisual brasileiro: “Devemos nos envolver mais no combate à pirataria, na elaboração de políticas de incentivo específicas para as videolocadoras, nas estratégias de colocação da nossa cinematografia nos mercados internacionais e no debate sobe a formulação de novos marcos regulatórios para a comunicação e para a cultura”. Glauber Piva é cientista social e foi secretário de cultura de Votorantim.
Entre os avanços, mas também se mantêem como desafios da Ancine, estão o gerenciamento e o bom funcionamento do Fundo Setorial Audiovisual. Na posse da Ancine em 2005, pelo então Ministro Gilberto Gil, a promessa era a de mais recursos para o cinema a fim de garantir a sustentabilidade do filme brasileiro no mercado com uma ação articulada para o desenvolvimento do setor. Para responder a esta demanda, em 2006, foi criado o Fundo do Audiovisual. Paulo Alcoforado, ex coordenador programa DOC-TV, da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, em seu discurso, ressaltou a importância do Fundo desde sua criação, como possibilidade de desenvolvimento das co-produções como veículo de inserção do produto audiovisual brasileiro no mercado internacional. “A criação do Fundo Setorial do Audiovisual posiciona o Brasil, no atual contexto do sistema financeiro mundial, como importante co-produtor internacional em potencial. Essa condição facilitará a articulação de recursos financeiros no exterior para a produção nacional e projetará o cinema e audiovisual brasileiros nos mercados estrangeiros” disse.
Empossados pelo ministro Juca Ferreira, os novos diretores escutaram um pedido de continuidade da boa gestão. “Vamos continuar o bom trabalho que já estava sendo feito. Não podemos sentar para descansar diante do que já conseguimos.” disse Juca Ferreira, reiterando o compromisso do Ministério da Cultura em articular políticas públicas que promovam a consolidação da indústria audiovisual brasileiro.
Ana Carolina, do Rio de Janeiro
Na foto: Glauber Piva em seu discurso de posse.