14 de jun. de 2009

OBSERVATÓRIO


Tomam posse, nesta sexta 19, os novos diretores da ANCINE (Agência Nacional do Cinema). Nomeados pelo Presidente Lula e aprovados pelo Senado Federal, três nomes assumirão a diretoria colegiada da agência. Manoel Rangel que foi reconduzido ao cargo de diretor-presidente da Agência, onde atua desde 2005. Paulo Alcoforado, ex-coordenador do programa DOC-TV, da Secretaria do Audiovisual, e o cientista social Glauber Piva, ex presidente da Fundação Cultural de Votorantim e ex coordenador do Setorial Nacional de Cultura do PT. Portanto, bom momento para fazer uma reflexão a respeito dos últimos números divulgados sobre a participação dos filmes brasileiros na distribuição total pelas salas de exibição.




Abaixo, minha contribuição ao tema:




Cinema nacional produz mais e distribui menos


Do público total de 89.960.164 mil pessoas que foram aos cinemas em 2008, apenas 9.143.052 assistiram aos filmes nacionais. Números estes divulgados em 2009 pela Ancine – Agência Nacional de Cinema revelam que a participação dos filmes brasileiros na distribuição pelas salas de audiovisuais é de somente 10%. Por outro lado, a produção de filmes brasileiros cresce a cada ano. Segundo dados também da Ancine, de três filmes em 1992 subiu para 29 em 2003, e cerca de 80 em 2007. Uma equação difícil de entender e resolver. Entre as causas do problema da crise de superprodução versus baixa de público, está a dificuldade em conseguir espaços nas salas de cinema e concorrer com os estúdios estrangeiros no preço dos ingressos. Na maioria dos festivais, o cinema brasileiro torna-se a vedete, geralmente ganhando prêmios ou pelo menos boas indicações. Porém, o otimismo do reconhecimento é ofuscado quando se olha para os números de bilheteria nacional.



Em 2008, durante o Festival de Cannes, Carlos Reichenbach diretor do filme “A Falsa Loira”, chegou a afirmar em entrevista para o jornal O Globo que ”nunca em 40 poucos anos de cinema tivemos condição tão precária de exibição”. Seu filme com orçamento considerado baixo de 3 milhões, captados por meio de leis de incentivo, estreou em apenas nove salas de cinemas. Sergio Sá Leilão, diretor da Ancine, na época, para responder a mesma questão disse que o aumento na produção vem do investimento público para a área do audiovisual, o que incentiva que cada vez mais profissionais da área corram atrás dos seus filmes. Porém, para ele, a causa da dissintonia entre público e produção está “na criação desvinculada do mercado gerando grande número de produtos pouco competitivos.”


Já para o co-produtor do filme paranaense Sal da Terra, Marcos Cordiolli, o problema está mesmo na concorrência desleal com os estúdios internacionais que passaram a disputar mercado lançando filmes simultaneamente com os concorrentes. Em sua opinião, portanto, “os estúdios passaram a programar filmes “pesos-pesados” em todos os meses do ano. Isto reduziu o espaço dos filmes nacionais e alternativos que ocupavam as grades de programação nos meses de baixa temporada nos períodos de abril/maio e agosto/setembro. Este espaço praticamente desapareceu em 2008 e 2009, porque a disputa entre os grandes estúdios ficou mais acirrada e com lançamentos competitivos durante o ano todo. As grandes distribuidoras também passaram a implementar contratos de exibição casada com as exibidoras obrigando-as a veiculação de filmes de menor audiência como forma de manter ocupadas as outras salas do mesmo pólo de exibição.” Lembra ainda que por estes motivos, “os filmes nacionais que não dispõem de grande estrutura e nem estão associados às grandes distribuidoras ficaram restritos a horários ruins como os da faixa das 17 horas. Horário ruim para quem trabalha e para quem estuda.”

Para driblar as dificuldades a produtora Labovideo, responsável pelo filme Sal da Terra, traçou estratégia diferenciada, o que vem permitindo um alcance significativo de público. Além da opção de abrir uma distribuidora própria, a “Cinema Nosso”, organizaram divulgação dirigida para nichos de público potencial do filme. “Atualmente já estamos com resultado significativo de público na região metropolitana de Curitiba. Pela temática do filme estamos montando, por exemplo, um sistema de exibição em postos de gasolina e eventos de caminhoneiros.” explica Cordiolli.


Texto: Ana Carolina Caldas

9 comentários:

Marco Amarelo disse...

Sem dúvida é um momento de reflexão. O cinema nacional nunca produziu tanto, mas está produzindo pra quem? Por que? Para disputar com outras mega produções nos festivais internacionais. Por isso, acho que o ponto fundamental desta discussão passa pelo acesso, para uma pós-reflexão, do conteúdo. Acredito que o acesso pode se dar a uma ampla campanha da Ancine pelo licenciamento alternativo das produções, como o uso das licenças Creative Commons.

Um forte abraço

Mauricio disse...

NO JORNAL BAHIA ONLINE
http://www.jornalbahiaonline.com.br/index.asp?noticia=1231


Cinema nacional produz mais e distribui menos

Ana Carolina Caldas

Do público total de 89.960.164 mil pessoas que foram aos cinemas em 2008, apenas 9.143.052 assistiram aos filmes nacionais. Números estes divulgados em 2009 pela Ancine – Agência Nacional de Cinema revelam que a participação dos filmes brasileiros na distribuição pelas salas de audiovisuais é de somente 10%. Por outro lado, a produção de filmes brasileiros cresce a cada ano.

Segundo dados também da Ancine, de três filmes em 1992 subiu para 29 em 2003, e cerca de 80 em 2007. Uma equação difícil de entender e resolver. Entre as causas do problema da crise de superprodução versus baixa de público, está a dificuldade em conseguir espaços nas salas de cinema e concorrer com os estúdios estrangeiros no preço dos ingressos.

Na maioria dos festivais, o cinema brasileiro torna-se a vedete, geralmente ganhando prêmios ou pelo menos boas indicações. Porém, o otimismo do reconhecimento é ofuscado quando se olha para os números de bilheteria nacional.

Em 2008, durante o Festival de Cannes, Carlos Reichenbach diretor do filme “A Falsa Loira”, chegou a afirmar em entrevista para o jornal O Globo que ”nunca em 40 poucos anos de cinema tivemos condição tão precária de exibição”. Seu filme com orçamento considerado baixo de 3 milhões, captados por meio de leis de incentivo, estreou em apenas nove salas de cinemas. Sergio Sá Leilão, diretor da Ancine, na época, para responder a mesma questão disse que o aumento na produção vem do investimento público para a área do audiovisual, o que incentiva que cada vez mais profissionais da área corram atrás dos seus filmes. Porém, para ele, a causa da dissintonia entre público e produção está “na criação desvinculada do mercado gerando grande número de produtos pouco competitivos.”

Já para o co-produtor do filme paranaense Sal da Terra, Marcos Cordiolli, o problema está mesmo na concorrência desleal com os estúdios internacionais que passaram a disputar mercado lançando filmes simultaneamente com os concorrentes. Em sua opinião, portanto, “os estúdios passaram a programar filmes “pesos-pesados” em todos os meses do ano. Isto reduziu o espaço dos filmes nacionais e alternativos que ocupavam as grades de programação nos meses de baixa temporada nos períodos de abril/maio e agosto/setembro.

Este espaço praticamente desapareceu em 2008 e 2009, porque a disputa entre os grandes estúdios ficou mais acirrada e com lançamentos competitivos durante o ano todo. As grandes distribuidoras também passaram a implementar contratos de exibição casada com as exibidoras obrigando-as a veiculação de filmes de menor audiência como forma de manter ocupadas as outras salas do mesmo pólo de exibição.” Lembra ainda que por estes motivos, “os filmes nacionais que não dispõem de grande estrutura e nem estão associados às grandes distribuidoras ficaram restritos a horários ruins como os da faixa das 17 horas. Horário ruim para quem trabalha e para quem estuda.”

Para driblar as dificuldades a produtora Labovideo, responsável pelo filme Sal da Terra, traçou estratégia diferenciada, o que vem permitindo um alcance significativo de público. Além da opção de abrir uma distribuidora própria, a “Cinema Nosso”, organizaram divulgação dirigida para nichos de público potencial do filme. “Atualmente já estamos com resultado significativo de público na região metropolitana de Curitiba. Pela temática do filme estamos montando, por exemplo, um sistema de exibição em postos de gasolina e eventos de caminhoneiros”, explica Cordiolli.




A autora foi coordenadora do Setorial de Cultura do PT de Curitiba (PR). Atualmente atua na assessoria de imprensa do Deputado Federal Ângelo Vanhoni (PT) para a bancada de vereadores do PT na Câmara Municipal de Curitiba. Jornalista, também formada em Pedagogia (UFPR) e tem mestrado em História da Educação pela Universidade Federal do Paraná

Andressa disse...

que legaaaaaalll
Ficou super bom o artigo, Ana
Parabéns. Muito orgulhosa da minha irmãzinha jornalista.
Beijo grande,
andressa

PT Nacional disse...

Artigo publicado no Site do PT Nacional

http://pt.org.br/portalpt/index.php?option=com_content&task=view&id=77401&Itemid=201

PT Paraná disse...

Artigo publicado no PT Estadual
http://pt-pr.org.br/noticias_detalhe.asp?ID=4100

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Parabéns Ana. Site do PT Nacional hein.... já era metida agora ninguém mais aguenta, rsrsrs.
Excelente artigo, texto claro e direto. Esta é a Ana. A mulher mais séria e compenetrada do PT.
Quando tinha tua idade eu era igualzinho, só depois é que virei um maluco meio irresponsável.
Veja só o que te aguarda.
Beijos. Mauricio Ramos.

Bardou disse...
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Bardou disse...

Ana,

Sua matéria aborda uma temática importante para o atual estágio docinema brasileiro: o acesso do público às boas produções nacionais. Vencer este verdadeiro gargalo cultural será o grande desafio dos novos diretores da ANCINE. Vamos torcer para que eles consigam. Viva o Cinema Nacional.
Abraços,
Bardou