Início da história:
Deivid Reis (o Heal), Leandro Cínico, Thiago Syen e Paulo Auma estão “na rua” grafitando já há quase dez anos. Primeiro cada um para um lado, depois todos juntos – assim como “Os Três Mosqueteiros”. No caso deles, “Os Quatro Grafiteiros”, em busca de uma parede perdida. Ambos dizem terem começado pela possibilidade da manifestação de seus pensamentos, pois segundo eles, arte é comunicação. Thiago explica: “Acredito que o grafite é a arte que mais se comunica com a cidade, pois através das paredes a gente pode dialogar com as pessoas.”
Entre as opiniões sobre o motivo da escolha por esta forma de vida, dizem que está “no olhar diferente da cidade pelo grafite”, ”na possibilidade de protestar o que indigna”, ”no comunicar-se com a cidade sempre e travar um diálogo no cotidiano”, até a “necessidade de sentir a cidade a apalpando por suas paredes”.
A união do grupo foi por esta sintonia de visões sobre o “mundo do grafite”. Paulo Auma, que hoje além de grafiteiro é professor de desenho pela Fundação Cultural, conta como foi este encontro: “nos encontramos na rua, fizemos amizade. Descobrimos sintonia e começamos a sair pra grafitar juntos. Fazíamos muitas vezes composições coletivas nas paredes, respeitando cada um o seu estilo.” Thiago acrescenta que o outro motivo que une o grupo é a concordância em relação ao significado do grafite: “Grafite é estilo de vida, a possibilidade do diálogo com a cidade, com as pessoas. Trata-se de uma manifestação estética espontânea.”
Pedras no caminho
Porém, nem tudo são flores na vida de um grafiteiro. Há um longo caminho a ser percorrido para que a Cidade e até a população reconheça arte no grafite, ou melhor, o grafite como arte. O grupo afirma que ainda existe muito preconceito e que ao longo dos anos já foram abordados de forma coercitiva e com violência na cidade. Cabe resgatar o caso da prisão da jovem pichadora Caroline “Sustos”, que participou junto com 40 pessoas da pichação do segundo piso do prédio da 28º Bienal Internacional de São Paulo. Sobre este assunto, Paulo Auma diz que "muitos outros artistas não convidados já fizeram espontaneamente instalações ou qualquer outra manifestação na Bienal. Mas, como ela era pichadora, daí pra eles não vale.”
Conquistas
Entretanto, Paulo Auma reconhece que existem conquistas no mundo dos grafiteiros. Uma delas, em nível de reconhecimento, foi a aprovação do projeto “Seis elementos”, contemplado pelo edital VIADUTOS E TRINCHEIRAS 2007, financiado pela lei municipal de incentivo a cultura, da Fundação Cultural de Curitiba(FCC).
“O trabalho que fazemos hoje – todos nós trabalhamos com artes, permite que aos poucos a gente dialogue com a cidade de outra forma. Ganhe respeito e reconhecimento da nossa arte”, afirma Paulo Auma. Mas avisa: “grafite é espontâneo, muitas vezes saímos à noite e temos uma idéia e a coisa acontece. Sem pedir permissão.”
"A CASA" - Espaço de Arte
Apesar da necessidade que sentem de à noite ou mesmo de dia sair sem muito planejar, e encontrar “a parede” para compor, todos trabalham e também estudam em algo relacionado às artes visuais. Por este motivo, o aprimoramento do grupo foi ficando nítido, e foi surgindo a necessidade de criar um espaço para que pudessem, além de fazer suas experimentações estéticas, realizar trocas com outros grupos.
Ex-aluna de Paulo Auma nos cursos de pintura da FCC - a psicóloga Tatiana Alves tinha uma casa e queria dar alguma utilidade a ela. Mais uma sintonia nessa história dos “quatro grafiteiros”. Tatiana ficou sabendo que o seu ex-professor buscava um espaço e a parceria se fez, com a contribuição agora da mais nova integrante. Imediatamente, batizaram o espaço “A Casa” – fazendo a analogia do trabalho dos grafiteiros sempre na rua e abrigados agora em “casa.” Trata-se de um projeto que vai além do grafite. Para Paulo Auma, "não é possivel fazer grafitei em sua plenitude e liberdade em um espaço fechado como este. "A CASA" não é uma extensão da rua, mas pode ser uma reflexão sobre a rua."
Na pouca existência do novo projeto, já foram ofertados cursos de diferentes técnicas que originam o grafite, exposições e trocas entre outros grupos de arte alternativa. Um grande bazar foi realizado no espçao com a participação de artistas das mais diferentes manifestações - que expuseram e trocaram quadros, camisetas, pinturas, entre outros. Atualmente “A Casa” faz parte da agenda cultural da Cidade.
Agenda!
No próximo dia 14 “A Casa” realiza em parceria com a grife de camisetas NOVEDEZ Clothing, a exposição CAMISA7: 7 amigos criando cada um uma estampa, totalizando 7 estampas diferentes com uma tiragem limitada de 7 exemplares, que estarão á venda em 7 dias juntamente com 21 MDF´s pintados por eles e videoinstalação. Entro os artistas que deixaram sua marca na camiseta, estão Thiago e Deivid. Saiba mais sobre esta idéia. Clique aqui
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“Na década de 1980, Paulo Leminski escrevia poemas na rua como a frase: “Palpite. “O grafite é o limite.” Na época, não havia muito grafite. Agora, a gente está vendo os grafiteiros conquistando seu espaço.” Deivid (Heal) – para reportagem da Gazeta do Povo.
Da onde veio?
A palavra grafite é de origem italiana e significa "escritas feitas com carvão".
Os romanos escreviam nas paredes e monumentos todo o tipo de inscrições, tais como insultos a alguém de quem não gostavam, declarações de amor à mulher amada, frases de apoio ou crítica política a uma das facções do senado ou a um imperador e citações de escritores famosos, entre muitas outras.
No século XX, mais precisamente no final da década de 60, jovens do Bronx, bairro de Nova Iorque (EUA), restabeleceram esta forma de arte usando tintas spray. Para muitos, o grafite surgiu de forma paralela ao hip hop - cultura de periferia, originária dos guetos americanos, que une o RAP (música muito mais falada do que cantada), o "break" (dança robotizada) e o grafite (arte plástica do movimento cultural). Nesse período, academias e escolas de arte começaram a entrar em crise e jovens artistas passaram a se interessar por novas linguagens. Com isso, teve início um movimento que dava crédito às manifestações artísticas fora dos espaços fechados e acadêmicos. A rua passou a ser o cenário perfeito para as pessoas manifestarem sua arte.
Na Europa, no início dos anos 80, jovens de Amsterdã, Berlim, Paris e Londres passaram a criar seus próprios ateliês em edifícios e fábricas abandonadas. O objetivo era conseguirem um espaço para criarem livremente. Nesses locais, surgiram novas bandas de música, grupos de artistas plásticos, mímicos, atores, artesãos e grafiteiros.
Grafitês:
Stycker: adesivos com arte confeccionados pelos artistas colocados em lugares públicos de grande visualização
Black Book: caderno que os grafiteiros possuem com suas produções e também desenhos de outros artistas
Wild - letra trançada
Graffiti Vandal - ilegal
Bomb - forma de letra do graffiti vandal
Tag - assinatura do grafiteiro
Veja imagens dos trabalhos de alguns dos integrantes da “A Casa”
A CASA - http://www.flickr.com/photos/acasagaleria
Deivid - www.flickr.com/heal2
Thiago - www.flickr.com/thiago_syen
Ana Carolina Caldas