14 de jul. de 2009

ROCK CURITIBANO: Entre os anos 80 à "Curitiba autofágica" e a promessa da nova geração




HISTÓRIA: Rock e os Guerrilheiros da Paz














Erick Hobsbawn em seu livro “História Social do Jazz” reflete sobre o momento em que o rock soterrou por alguns anos a ascendência do jazz na geração mais jovem. Ele sintetiza o que era o fenômeno mundial que com as mesmas raízes do jazz – derivação do blues negro americano – o deixou no que ele chama de “isolamento rancoroso e pobre que durou cerca de 20 anos.” Foi no início da década de 1960 o boom rockeiro mundial. Só para se ter uma idéia – de acordo com os números do mercado fonográfico em 1972, apenas 1,3% dos discos e fitas vendidas nos EUA eram de jazz, contra 6,1% de música clássica e.... 75% de rock e gêneros semelhantes! Hobsbawn pergunta então por que motivo o rock teria exterminado o jazz durante vinte anos? Ambos tinham sua origem na música dos negros americanos, e foi através dos músicos e fãs do jazz que o blues negro passou a merecer atenção de um público mais amplo do que o meramente restrito aos estados do sul dos Estados Unidos e dos guetos negros. Alguns motivos são destacados pelo historiador: o primeiro, a fase do “milagre econômico” dos anos 50 que ao criar um mundo ocidental de pleno emprego, provavelmente pela primeira vez deu à massa adolescente empregos remunerados e poder aquisitivo para o consumo, entre outras coisas, para o lazer. Em 1955, quando nasceu o Rock-and-roll, até 1959 as vendas norte-americanas cresceram 36% a cada ano. Depois de uma pequena pausa, a invasão britânica de 1963, liderada pelos Beatles, iniciou um crescimento ainda mais espetacular.
There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say,
but you can learn how the play
the gameIt's easy (Beates, All You Need Is Love)
O segundo motivo está relacionado ao clima da década de 60, que dispensa comentários. Quase que imediatamente, segundo o historiador, “o rock tornou-se o meio universal de expressão de desejos, instintos, sentimentos e aspirações do público entre a adolescência e aquele momento em que as pessoas se estabelecem em termos convencionais dentro da sociedade, família ou carreira: a voz da linguagem de uma “juventude” e de uma “cultura jovem” conscientes de seu lugar dentro das sociedades industriais modernas. Poderia expressar qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo dentro dessa faixa etária – mas embora o rock tenha desenvolvido variantes regionais, nacionais, de classes ou político-ideológicas claras, sua linguagem básica, da mesma forma que a vestimenta vulgar-populista associada à juventude (principalmente o jeans), atravessou fronteiras de países, classes ou ideologias. A exemplo do que ocorre na vida dos integrantes desses grupos etários, no rock o público e o privado, o sentimento e a convicção, o amor, a rebeldia e a arte, a dramatização e a postura assumida no palco não são distinguíveis uns dos outros.”
Observadores de mais idade, por exemplo, destaca o historiador, acostumados a manter a revolução separada da música e a julgar cada uma dessas coisas por seus próprios critérios, devem ter ficado perplexos com a retórica apocalíptica que podia envolver o rock no auge da rebelião da juventude, quando a revista Rolling Stone escreveu, a respeito de um concerto em 1969 :




Um exército de guerrilheiros da paz formou uma cidade de grandes proporções, maior do que Rochester no estado de Nova York, e se mostrou imediatamente pronto a voltar-se contra a cidade já devastada e (seus) estilos de vida inoperantes, eminentemente preparados para avançar pelos capôs cobertos de neblina e pelos bosques frios e silenciosos. Eles o farão novamente. A ameaça da dissidência jovem em Paris e Praga e Fort Lauderdale e Berkeley e Chicago e Londres, em um ziguezague que nos faz cada vez mais próximos, até que o mapa do mundo em que vivemos seja viável e visível para todos os que dele participam e todos os que nele estão encerrados.”




Rock curitibano entre a autofagia e a promessa da nova geração



E agora, pra onde vai e da onde vem o tal de Rock and Roll? Em Curitiba, o debate que iniciou a semana do Rock na FNAC, nesta segunda, escancarou uma faceta bastante pessimista da história que hoje se faz sobre o gênero dos Beatles, Elvis Presley e tantos outros. Autofagia curitibana foi o tema central da conversa que reuniu o jornalista e músico Dary Junior (Terminal Guadalupe), Vlad Urban (Psycho Carnival), Getulio Guerra (PrasBandas), o jornalista cultural Abonico Smith (Site Mondo Bacana) (e o jornalista Cristiano Castilho (Caderno G). O mediador Marcio Santos, jornalista da Gazeta do Povo, logo de início para deixar claro a qualquer desavisado tratou de simplificadamente explicar o que é autofagia: “é quando o outro quer destruir o próximo.” Para os cinco participantes da mesa, Curitiba é autofágica com seus artistas, assim como são os artistas entre eles e ainda para piorar tudo a imprensa local entra no mesmo barco.
O objetivo deste primeiro debate era talvez o desabafo mesmo e principalmente a reflexão sobre a cena do rock na cidade. Os debatedores colocaram as cartas na mesa e foi bonito de ver, principalmente por que ali – a maioria exalava paixão pelo que faz e por este motivo tanto lamento pela falta de reconhecimento ao que se produz aqui.. Porém ao final não faltaram dicas ao público jovem presente de como superar e construir um cenário mais promissor para o rock curitibano.
E até parece um conceito
Pura ilusão de movimento
Quando a retórica não tem conserto
Tudo é mero lamento (Terminal Guadalupe)
Em síntese, os debatedores falaram suas experiências aqui e lá fora (de Curitiba, do Brasil...). Mas também colocaram na parede a imprensa ali no evento representada pela Gazeta do Povo. Mais contundente o jornalista e músico Dary Junior disse que a imprensa curitibana seleciona pautas conforme a amizade do jornalista com a banda ou mesmo conforme a preferência. Vlad Urban, idealizador do Psycho Carnival se opôs por acreditar que de nada adianta esperar que o sucesso da banda venha das páginas de jornal. Para ele “não dá para ficar esperando que saia noticia sua no jornal, tem é que correr atrás, fazer algo bom e chegar até o público.” Apesar de considerar que “sua obra”, o Psycho Carnival já seja sucesso na cidade, considera que ainda é bastante difícil “a ampliação do público, por exemplo, na cena rockabilly”. O jornalista Cristiano Castilho do Caderno G/Gazeta do Povo ao retrucar as críticas feitas “à imprensa” defendeu a independência, de fato, para a música independente. Para ele , “é preciso pensar em qualidade, organizar sua estrutura, ir atrás e não ficar dependendo, por exemplo da divulgação pela mídia.”
Cabeça dinossauro
Cabeça dinossauro Cabeça cabeça
Cabeça dinossauro Pança de mamute
Pança de mamute Pança pança
Pança de mamute Espírito de porco
Espírito de porco
Espírito de porco (Titâs, Cabeça Dinossauro)





Tanto Abonico como Getúlio Guerra, contemporâneos do rock dos anos 80 em suas falas foram saudosistas da época e confessam perseguir o mesmo entusiasmo dos tempos áureos do rock. Getulio lamentou a falta de interesse da juventude atual e afirmou que o Projeto PrasBandas persegue este objetivo: entusiasmar a juventude para a arte. Já para Abonico, jornalista desde a década de 80 sempre em busca de novas bandas, destaca que apesar do saudosismo “há que se considerar que as novas tecnologias contribuíram para a ampliação e acesso ao público”. E vai mais longe ao dizer que “a nova geração tem mais qualidade técnica que as de antigamente”. Todos os demais concordaram. Quem sabe, portanto, a nova geração que entende das ferramentas tecnológicas e internéticas e que possa parecer alienada, desinteressada – bastante distante, mas tão próxima dos jovens de jeans da década de 60, (assim como descreveu Hobsbawn,) possa mudar – a seu jeito - o rumo desta “letra”, autofagia, autofagia e autofagia – “cantarolada” em quase todos os campos da arte na cidade. Quem sabe.... Quem sabe....







Promessa da nova geração, olha aqui
Deu saudade?



























Ana Carolina Caldas

Um comentário:

Batuta de Lata disse...

Ana Carol Caldas. Muito bom o post, muito bom o blog, não conhecia. Ganhaste um fã.